Os problemas com a Academia, Nassim Nicholas Taleb

Adolfo Neto
2 min readMay 1, 2020

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Trechos de Arriscando a Própria Pele, de Nassim Nicholas Taleb, que faz parte do Incerto. Leia o livro! Estes trechos são apenas um lembrete para mim.

(…) Um chefe de departamento (agora “renunciado”) chegou um dia para mim e falou: “Assim como, quando você é um empresário e autor, você é julgado por outros empresários e autores, aqui, como acadêmico, você é julgado por outros acadêmicos. A vida é sobre avaliação por pares. ”

Não! Os empresários, como tomadores de risco que são, não estão sujeitos ao julgamento de outros empresários, apenas ao julgamento de seu contador pessoal.

Você pode definir uma pessoa livre precisamente como alguém cujo destino não depende central ou diretamente da avaliação por pares.

Ser revisto ou avaliado por outras pessoas é importante se e somente se alguém estiver sujeito ao julgamento dos outros do futuro — e não apenas dos outros do presente.

Pares contemporâneos são colaboradores valiosos, não juízes finais.

De fato, há algo pior do que a avaliação por pares: a burocratização da atividade cria uma classe de novos juízes: administradores de universidades, que não têm idéia do que alguém está fazendo, exceto por sinais externos, tornam-se os árbitros reais.

A academia tem uma tendência, quando não verificada (por falta de pele em jogo), a evoluir para um jogo de publicações ritualístico e autorreferencial.

Agora, enquanto a academia se transformou em uma competição esportiva, Wittgenstein manteve o ponto de vista oposto: se alguma coisa, o conhecimento é o inverso de uma competição esportiva. Em filosofia, o vencedor é quem termina por último, disse ele.

Qualquer coisa que cheira a competição destrói o conhecimento.

Deve-se dar mais peso à pesquisa que, apesar de rigorosa, contradiz outros pares, principalmente se implica custos e danos à reputação de seu autor.

Alguém com uma alta presença pública que é controverso e assume riscos por sua opinião é menos provável que seja um vendedor de bobagens.

A desprostitucionalização da pesquisa acabará sendo feita da seguinte forma. Force as pessoas que desejam fazer “pesquisa” a fazê-la em seu próprio tempo, ou seja, a obter sua renda de outras fontes. Sacrifício é necessário.

Para que sua pesquisa seja genuína, eles devem primeiro ter um emprego no mundo real, ou pelo menos passar dez anos como: fabricante de lentes, funcionário de patentes, operador da máfia, apostador profissional, carteiro, guarda penitenciário, médico, motorista de limusine, membro de milícia, agente de serviço social, advogado, agricultor, chef de restaurante, garçom de alto volume, bombeiro (meu favorito), faroleiro etc., enquanto eles estão construindo suas idéias originais.

Não tenho simpatia por pesquisadores profissionais que ficam se lamentando.

Lembre-se de que a ciência obedece à regra da minoria: alguns a comandam, outros são apenas funcionários administrativos.

As idéias precisam ter a pele em jogo. Você sabe que uma idéia falhará se não for útil e, portanto, pode ser vulnerável à falsificação do tempo.

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Adolfo Neto

Sou Professor da UTFPR. Aqui publico textos em português. Texto em inglês estão em https://medium.com/@adolfont Twitter: https://twitter.com/adolfont.